Guia do EPI cabeçalho

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Tudo sobre saúde e segurança do trabalho

terça-feira, 10 de maio de 2011

Acidente de Trabalho: o quadro Brasil



Brasil tem 410 mil acidentes de trabalho por ano, que matam 3 mil
brasileiros e custam R$ 32 bilhões ao país

Eles matam oito trabalhadores brasileiros por dia e esta conta pode ser
muito maior, já que não inclui os 40 milhões de brasileiros da economia
informal. Números macabros retratam o descuido de boa parte do
empresariado com as normas de segurança e com seus funcionários

Brasília - Os números são macabros mas, infelizmente, retratam o
descuido de boa parte do empresariado com as normas de segurança e
com seus funcionários. O Brasil teve no ano passado 410 mil acidentes de
trabalho, responsáveis pela morte de 3 mil trabalhadores - oito óbitos por
dia - e que deixaram 102 mil brasileiros permanentemente inválidos.
Milhares de trabalhadores adquiriram em suas funções doenças com as
quais terão de conviver pelo resto de seus dias. Os dados são do Ministério
da Previdência e Assistência Social e são relativos ao ano de 2002

As estatísticas do Ministério só consideram os trabalhadores da economia
formal, ficam de fora aproximadamente 40 milhões de pessoas. Esta
conta, entretanto, certamente é muito maior do que apontam os registros
do Ministério da Previdência Social. As estatísticas do Ministério só
consideram os trabalhadores da economia formal, que têm carteira
assinada e pagam o INSS. A Previdência trata, portanto, apenas do
universo dos 23 milhões de brasileiros que, até em agosto de 2003,
podiam ostentar sua carteira de trabalho assinada. Por esta conta, ficam
de fora aproximadamente 40 milhões de pessoas que não contribuem para
a previdência, os chamados trabalhadores da economia informal, segundo
dados do Ministério do Trabalho.

O sociólogo José Pastore, que realiza estudos nesta área há mais de 40
anos, avalia que este quadro, além de desumano, acaba redundando em
um custo altíssimo para o país. Segundo ele, o custo dos acidentes de
trabalho para as empresas é de cerca de R$ 12,5 bilhões anuais e para os
contribuintes, de R$ 20 bilhões anuais . Portanto, o custo total é de cerca
de R$ 32 bilhões para o país.

De acordo com o Ministério da Saúde (MS), cerca de 200 patologias estão
relacionadas ao trabalho. Dessas, merecem destaque as Lesões por
Esforço Repetitivo (LER), também denominadas Distúrbios
Osteomoleculares Relacionados ao Trabalho (DORT), segunda causa de
afastamento do trabalho no Brasil, segundo dados do INSS.

A cada 100 trabalhadores na região Sudeste, por exemplo, um é portador
de LER, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). A doença
atinge profissionais na faixa etária de maior produtividade, entre 30 e 40
anos de idade e ataca principalmente bancários, metalúrgicos e operadores
de telemarketing.

Bancários e profissionais de saúde são os que mais se afastam por causa
de doenças mentais. Dessas, 55% são doenças depressivas. As doenças
relacionadas ao estresse e à fadiga física e mental também são apontadas
por especialistas como as que mais afetam os trabalhadores, apesar da
subnotificação dos casos. É o que aponta uma pesquisa realizada em 2002
pelo Laboratório de Saúde do Trabalhador da Universidade de Brasília

(UnB) a partir de dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Seguridade
Social (INSS).

O estudo mostrou que bancários e profissionais de saúde são os que mais
se afastam por causa de doenças mentais. Dessas, 55% são doenças
depressivas. "Na verdade, muitas outras profissões devem possuir um
quadro relevante de afastamento por doenças mentais, mas as duas
apontadas na pesquisa têm o diferencial de serem classes profissionais
organizadas, que conseguem com mais facilidade relacionar determinadas
doenças com o trabalho", afirma a pesquisadora Anadergh Barbosa. Além
disso, "a doença mental gera um estigma que não é interessante para
nenhum trabalhador. Muitas doenças que são de origem mental estão
caracterizadas como doenças orgânicas", conclui.

Alguns fatores de risco que predispõe à doença mental, apontados na
pesquisa, são lidar com a vida e a morte (situação vivida pelos
profissionais de saúde), lidar com o público, com dinheiro, pressão
temporal, pressão da informatização, atividades monótonas, a sobrecarga
de trabalho e a diminuição dos salários.

Nos grandes centros urbanos, a violência e a criminalidade também podem
ser apontadas como responsáveis por doenças traumáticas e de sofrimento
mental, ocorrendo principalmente em bancários, policiais, vigilantes e
trabalhadores rurais que lutam pela posse de terra.

No campo, agrotóxico é o vilão

Os agrotóxicos estão em sétimo lugar em número de acidentes com
substâncias químicas e em primeiro no número de mortes

Na área rural, as doenças do trabalho têm outro perfil. O agrotóxico passa
a ser o principal vilão, já que os trabalhadores do campo no Brasil são os
que estão mais sujeitos à exposição aos seus efeitos nocivos. Segundo
estimativas da OMS, anualmente cerca de três milhões de pessoas são
contaminadas por essas substâncias e 70% dos casos ocorrem em países
em desenvolvimento. Os agrotóxicos estão em sétimo lugar em número de
acidentes com substâncias químicas e em primeiro no número de mortes.

No Brasil, a atenção do governo à saúde do trabalhador se dá por meio dos
60 Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CRST), espalhados
por todo o país, responsáveis pelo tratamento dos cinco problemas que
têm maior gravidade e prevalência: as Lesões por Esforço Repetitivo (LER)
e Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT); as
pneumoconioses (doenças provocadas por inspiração de grãos de areia);
doenças produzidas pelos agrotóxicos; pelos metais pesados e solventes
orgânicos e acidentes graves e fatais de trabalho.

O modelo brasileiro foi inspirado nas primeiras experiências de criação de
centros de referência para a saúde do trabalhador. Elas surgiram no final
dos anos 80, nos municípios de Campinas, Salvador e São Paulo. Até abril
de 2004 deverão estar organizados 130 desses centros, nos quais terão
sido investidos R$ 43,5 milhões.

Empresários não querem investir em prevenção

A prevenção aos acidentes do trabalho é a ferramenta mais importante
para evitar a incapacitação de milhares de trabalhadores. Para os
especialistas, a prevenção aos acidentes do trabalho é a ferramenta mais

importante para evitar a incapacitação de milhares de trabalhadores,
apesar de muitas empresas não entenderem a prática como um
investimento rentável. Enquanto este quadro não mudar será difícil
conseguir reduzir o número de acidentes de trabalho.

Algumas mudanças na rotina de trabalho, entretanto, também podem
minimizar os efeitos nocivos que a própria rotina de algumas profissões
ocasiona. Já é comum em muitas empresas a prática da ginástica laboral,
que previne contra a LER. Algumas oferecem também academias, cinema
no horário do almoço e palestras sobre qualidade de vida, que
comprovadamente melhoram a produtividade do trabalhador.

Na opinião do médico Gutemberg Fialho, especialista em medicina do
trabalho, as empresas não consideram rentável investir na segurança do
trabalho porque após o 15º dia de afastamento quem garante o salário do
acidentado é a Previdência Social. Ele propõe uma mudança que
revolucionaria o setor: mudar a legislação e obrigar os empregadores a
pagarem todos os custos de acidentes de trabalho causados, por exemplo,
por negligência da empresa. "A partir do momento em que o empresário
sentir no bolso os custos dos acidentes, ele vai se preocupar em investir
em prevenção e saúde ocupacional", afirma. É uma idéia para ser debatida
por empregados, empregadores e governo.

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